terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Don't think at all

Summer stretching on the grass
Summer dresses pass
In the shade of a willow tree
Creeps a-crawling over me
Over me and over you
Stuck together with God's glue
Itís gonna get stickier too.
Itís been a long hot summer
Let's get under cover
Don't try too hard to think
Don't think at all.

I'm not the only one
Staring at the sun
Afraid of what you'd find
If you take a look inside.
Not just deaf and dumb
Iím staring at the sun
Not the only one
Who's happy to go blind.

There's an insect in your ear
If you scratch it won't disappear.
It's gonna itch and burn and sting
Do you wanna see what the scratching brings!
Waves that leave me out of reach
Breaking on your back like a beach.
Will we ever live in peace?
'Cause those that can't do often have to
And those that can't do often have to preach

To the ones staring at the sun
Afraid of what you'll find if you took a look inside.
Not just deaf and dumb, staring at the sun
I'm not the only one who'd rather go blind.

Intransigence in all around
Military's still in town
Armour plated suits and ties
Daddy just won't say goodbye
Referee won't blow the whistle.
God is good but will he listen?
I'm nearly great but there's something missing.
I left it in the duty free,
Oh, though you never really belonged to me.

You're not the only one staring at the sun
Afraid of what you'd find if you stepped back inside.
I'm not sucking my thumb, staring at the sun
Not the only one who's happy to go blind.

U2, "Starring at the Sun"

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Longe

Sai debaixo das pedras
E vai
Vai

Descola a memória
Flutua no vago
Deixa-te ficar
Há sempre um perigo

Sai debaixo das pedras
E vai
Vai

Vai mais longe mais fundo
Não mudes de assunto
Só porque é mais fácil

Vai
Vai mais longe vai
Vai ao fundo do fundo
Não mudes de assunto
Há sempre um perigo

Longe o ar é mais leve
Pode ser isso o que me chama
Não sei resistir
Nem sei porquê
Pensar que devia...

Vai
Vai mais longe vai
Vai ao fundo do fundo
Não mudes de assunto
Há sempre um perigo

Alberto Lopes, "Perigo"

domingo, 13 de janeiro de 2008

Luz

Eu sei
Eu quis demais
E o sonho nada traz
Sonhar seduz a paz
Eu sei
Eu vi
Em meu crescer
Que eu vou sempre dar a mim

Imploro a luz e sigo sempre à sombra
Imploro a morte e volto à luz

Alguém pensou em mim à boca da varanda
Eu não senti que houvesse alguma razão para amar
Imploro a queda como quem não quer saber

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Quando eu sonho eu levo a minha força até ao fim
E quando o sonho acaba cego
Eu olho fundo para mim
E não vejo nada além da tão real ausência de outra luz
E só por ela volto à cruz
À minha cruz

Eu vi meu pai nascer na mesma cama de outros homens
E hoje eu sei
Eu aprendi

Já nada importa agora à luz
Do trago de onde vim.
Se à luz lá fora eu quero que haja luz em mim

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar
Sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Vem ver
Quem vi nascer
É filho de outra guerra
No trilho de outra paz

Alguém entrou em mim
Entrego a minha espada
Eu não senti que houvesse alguma razão para amar
Imploro a queda como quem não quer saber

É tempo de nascer devagar
Não quero ver o fim chegar
sem eu nascer devagar
Eu não quero ver o fim sem eu nascer

Manel Cruz, "Tempo de Nascer"

Do lado de fora

Vou falar-vos dum curioso personagem: Jeremias, o fora-da-lei
Descendente por linha travessa do famigerado Zé do Telhado
Jeremias dedicou-se desde tenra idade ao fabrico da bomba caseira
Cuja eloquência sempre o deixou maravilhado

Para Jeremias nada se assemelha à magia da dinamite
A não ser talvez o rugir apaixonado das mais profundas entranhas da terra
E só quando as fachadas dos edifícios públicos explodirem numa gargalhada
Será realmente pública a lei que as leis encerram

Há quem veja em Jeremias apenas mais uma vítima da sociedade
Muito embora ele tenha a esse respeito uma opinião bem particular
É que enquanto um criminoso tem uma certa tendência natural para ser vitimado
Jeremias nunca encontrou razões para se culpar

Porque nunca foi a ambição, nem a vingança, que o levou a desprezar a lei
E jamais lhe passou pela cabeça tentar alterar a Constituição
Como um poeta ele desarranja o pesadelo para lá dos limites legais
Foragido por amor ao que é belo e por vocação

Jeremias gosta do guarda roupa negro e dos mitos do fora-da-lei
Gosta do calor da aguardente e de seguir remando contra a maré
Gosta da forma como os homens respeitáveis se engasgam quando falam dele
E da forma como as mulheres murmuram: fora-da-lei

Gosta de tesouros e mapas sobretudo daqueles que o tempo mais maltratou
Gosta de brincar com o destino e nem o próprio inferno o apavora
Não estando disposto a esperar que a humanidade venha alguma vez a ser melhor
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora
Jeremias escolheu o seu lugar do lado de fora

Jorge Palma, "Jeremias, o Fora da Lei"

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Ciclo

Disseram-me um dia, Rita (põe-te em guarda)
aviso-te, a vida é dura (põe-te em guarda)
cerra os dois punhos e andou (põe-te em guarda)
e eu disse adeus à desdita
e lancei mãos à aventura
e ainda aqui está quem falou

Galguei caminhos-de-ferro (põe-te em guarda)
palmilhei ruas à fome (põe-te em guarda)
dormi em bancos à chuva (põe-te em guarda)
e a solidão, não erro
se ao chamá-la, o seu nome
me vai que nem uma luva

Andei com homens de faca (põe-te em guarda)
vivi com homens safados (põe-te em guarda)
morei com homens de briga (põe-te em guarda)
uns acabaram de maca
e outros ainda mais deitados
o coveiro que o diga

O coveiro que o diga
quantas vezes se apoiou na enxada
e o coração que o conte
quantas vezes já bateu para nada

E um dia de tanto andar (põe-te em guarda)
eu vi-me exausta e exangue (põe-te em guarda)
entre um berço e um caixão (põe-te em guarda)
mas quem tratou de me amar
soube estancar o meu sangue
e soube erguer-me do chão

Veio a fama e veio a glória (põe-te em guarda)
passearam-me de ombro em ombro (põe-te em guarda)
encheram-me de flores o quarto (põe-te em guarda)
mas é sempre a mesma história
depois do primeiro assombro
logo o corpo fica farto

O coveiro que o diga
quantas vezes se apoiou na enxada
e o coração que o conte
quantas vezes já bateu para nada

Sérgio Godinho, "Balada da Rita"